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Carl Barat quase não chega a Campos de Goytacazes. Mas no fim um ‘novo Libertines’ tocou no interior do Rio

Lúcio Ribeiro

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* Você soube por aqui, semana passada, que o libertine Carl Barat, de passagem para um DJ set em São Paulo dentro do Cultura Inglesa Festival, aproveitou para fazer um show, digamos, bastante especial. Barat foi cooptado para tocar em Campos dos Goytacazes, cidade no interior do Rio de Janeiro. Levados por fãs do Libertines, principalmente um em especial, que persegue Carl e o parça Peter Doherty por onde tocam. Conrado Muylaert, esse um, tem uma banda inspirada em Libertines, a Playmoboys, e inclusive possui um ''pub inglês'' na cidade, o Underground, homenagem a Londres.

Muylaert conseguiu o contato, fez o convite e Barat topou fazer um show seu improvizado. E levou ainda o baterista Gary Powell (Libertines, Dirty Pretty Things) com ele. O show aconteceu domingo passado.

Antes de mostrar registros em vídeo dessa apresentação de 1/2 Libertines em Campos dos Goytacazes, reproduzo aqui um interessante depoimento do fã Muylaert na tentativa de botar de pé um show de seu ídolo em sua cidade, que não é exatamente um lugar visitado por atrações internacionais. Muylaert escreveu o relato na terça-feira, depois de descansar da aventura de domingo.

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Hoje, terça-feira, a ficha caiu. Realmente aconteceu: Carl Barat foi a Campos, tocou no nosso pub, e se juntou a Gary Powell e à minha banda e fizemos 6 músicas. Sonho realizado: Libertines + Playmoboys. Mas foram 24 horas. E nem tudo foi sonho. Vamos lá, hora a hora.

11:00 – Chego no aeroporto de Guarulhos para pegá-los. Nosso vôo era apenas às 13:50, mas me antecipei.

12:00 – Ansiedade a mil, e nada deles. Faltando 10 minutos para às 13, tento ligar para ele que não atende. Gary entra em contato: “Vamos pegar um voo mais tarde, Carl está atrasado''.
Desesperei. Como pegar outro vôo? As passagens estavam comigo. Tentei ligar de novo. Gary não explicava bem o que ocorria. Minutos depois liga uma menina, chamada Fani: “Vou ser sincera, o Carl está apagado, não se mexe. Não sei se ele irá. Ele abusou muito ontem, e entrou numa viagem muito pesada.” Bem, o sonho virara pesadelo. Passagens trocadas para 14:40. A empresa informou que eles teriam que chegar até as 14. Fani liga novamente, por volta das 13:20. Ele abriu os olhos, e disse que vai. Pediu para comprar coca-cola e aspirina para que ele saia do quarto. Todos os sócios do Underground Pub em desespero. Eu sozinho em Guarulhos, repetia para minha amiga Marina: “Meu ídolo virou meu inimigo”.

14:20 – Eles chegam ao aeroporto. A Azul abre exceção e prorroga check-in para podermos viajar. Carl não sai do carro de imediato. E quando sai mal consegue andar. Gary ri todo o tempo, e logo se mostra uma pessoa incrível. Minha primeira foto com Carl:

Na verdade não, eu estava carregando ele, que não andava, e só se concentrava na Coca-cola lata e no pão de queijo que Marina comprou para ele. Primeira etapa cumprida. Fani e Marina vão embora, e eu entro no embarque com os dois. Porém, Carl bota a lata aberta no bolso, e por isso não pode passar no detector de metais. Senta na esteira, e só sai depois de comer o pão de queijo com o refrigerante. Pergunto para o Gary: “O problema não era o Pete?”. Gary ri e diz que os dois são quase iguais. Somos os últimos a entrar no avião, porque na última hora Carl resolve comer outro pão de queijo. Me mostra 90 reais e pergunta se dá para comprar com esse dinheiro.

15:00 – Estamos no avião. Enquanto a aeromoça passa informações em português do uso do cinto, Carl começa a dar uns gritos: “Talk in english… taaaaaaaaaalll… cof cof, ahahah…aaaaaa”. A aeromoça se aproxima de mim. Achei que era para expulsar a gente. Mas diz para eu ficar calmo, que todos iriam me ajudar. Gary me chama: não se preocupe, ele só está um pouquinho bêbado.

16:00 – Carl, que dormiu a viagem toda, continua apagado mesmo após o pouso. A essa hora, todos do avião já sabem quem é ele, e riem. Sobra pra mim e Gary a missão de acordá-lo.

Quando estamos na pista andando para o aeroporto, uma moça me avisa: olha para trás, seu amigo dormiu de novo. E lá estava ele dormindo na escada do avião… Barreto, baterista do Playmoboys, nos esperava de carro no Santos Dumont. Viagem de 4 horas para Campos. Carl dorme quase todo o tempo. Acorda na hora em que tocava uma música nossa no rádio, chamada ''Baby Girl''. E diz: “Que música legal, quem canta?”. Falei que era a gente, pensando que iria iniciar um papo. Falei que uma das minhas músicas preferidas ele nunca toca em shows, chamada “Come Closer”. E ele riu. Mas 10 segundos depois, ele já estava dormindo.

Quando acordou de novo, ele e Gary ficaram encantados ouvindo a coletânea de Bossa Nova que tínhamos no carro. Gary ficava tentando descobrir a batida, o compasso.

20:30 – Campos. Fomos direto para casa da minha irmã. Ao descer do carro, ele estava totalmente sóbrio, simpático. E disse: “Onde estamos? Eu viajei hoje?” Gary riu, e respondeu. Na casa da minha irmã, Gary comeu bastante e tomou whisky. Tocou bateria com meus cunhados, puxando sambão de carnaval. Carl vai para o quarto do meu sobrinho tocar violão. Quando eu e Barreto entramos, ele estava tentando tocar “Come Closer”, e me mostrou o setlist que acabara de fazer. ''Come Closer'' seria a música número 1. E me perguntou se estava boa a lista de músicas. Logo após, foi para o quarto do meu outro sobrinho e ficou sozinho. Fui conversar, e ele disse que estava muito nervoso com o show. Falei que não tinha motivo, que era só uma diversão para poucas pessoas. Ele agradeceu e pediu para ficar mais um pouco ali.

22:00 – Fomos para o pub. Enquanto minha banda tocava, ele ficou no camarim, e Gary foi nos assistir, no meio da galera. Quando acabou o show dos Playmoboys, fui para camarim. Um dos meus sócios me disse no caminho que Carl havia dito que estava nervoso porque achava que não seria reconhecido e achava que o público poderia não gostar do show. Fui falar com ele. Ele: “Prefiro não tocar agora, tá? Você toca com sua banda cheia de guitarras e músicas dos Beatles, ninguém vai gostar de mim com meu violãozinho”. Aí brinquei: “Ninguém veio aqui pra ver minha banda! Todos estão à\a sua espera”. Ele repete: “A primeira música é para você. E no final, vamos tocar juntos!” Minutos depois, ele vai ao palco e se transforma. Era o rockstar que conhecemos. Com atitude, carisma, e contagiando a todos, música após muúsica. Gary é chamado ao palco, e no caminho me chama. Vou para o baixo. Eles puxam “Don’t look Back into the Sun”, logo depois “Bang Bang, You're Dead” e “Deadwood”. Nesta música, logo no início, eu errei. Ele olhou parecendo bravo. No fim da execução eu falei que não sabia tocar baixo. Ele: “Não se preocupa, é só brincadeira.”

Por fim, ele me passou a guitarra. Chamei os outros integrantes do Playmoboys, e tocamos “Can’t Stand Me Now”. Ele com a cabeça fez sinal para eu cantar junto.

Após o show, os dois se misturaram a todos. Muitas fotos e autógrafos. Às duas da manhã, fomos embora. Eles passaram na casa da minha irmã, e escreveram um bilhete para ela e meu cunhado, agradecendo por tudo.

Fomos para o Rio. No aeroporto, conversamos até a hora do embarque. Eles perguntavam da nossa banda e do meu livro (escrevi um romance que lanço no Pub próximo sábado, 29). E diziam que era chato viajar sem ter tempo para nada. Trocamos telefones e e-mail, e eles perguntaram quando eu e Barreto iríamos a Londres. E seguiram para Buenos Aires, onde ficariam apenas um dia, antes de voltar para a Inglaterra.

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