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Lolla, dia 1 – Lorde, NIN e Disclosure ganham a corrida de fórmula indie

Lúcio Ribeiro

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A gente reclama, reclama, mas chega o dia do festival e estamos aqui já contando os dias para o próximo. O primeiro dia do Lolla teve mais acertos que erros, mesmo que alguns desses erros pesem um pouco na balança. Com um line-up encabeçado por NIN e Muse, com Lorde e Disclosure no pacote, a maioria (tipo 90%, numa estatística de cabeça tipo IPEA haha) do público era de adolescentes. Esses levaram muita vantagem em relação aos mais velhos aqui, podendo percorrer a distância entre um palco e outro sem ter que fazer umas paradinhas estratégicas para disfarçar o cansaço no meio.

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Em novo espaço, o Lolla versão-Autódromo ficou bonito, ainda mais visto de cima, com os três palcos lotados. Mas, também visto de cima, o tamanho do evento assusta. A distância entre o palco Interlagos e o palco Onix, por exemplo, é uma maratona. Quem esperou a Lorde acabar o show para correr pro NIN talvez tenha atingido a linha de chegada no fim do festival.

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Panorâmica do festival, do alto. O palco ''vermelho'' era onde o Julian ia tocar. À direita da foto, galera em massa chegando tipo 16h. Lá no fundao, um mar de gente para o palco onde o Cage the Elephant estava tocando e depois iam entrar Imagine Dragons e NIN

O mesmo aconteceu com quem foi de trem até lá. A opção mais certeira, sem dúvida. Pena que a gente não conseguiu fazer o trajeto estação Autódromo-Lolla nos seis minutos sugeridos no site (aquilo foi pegadinha do Google Maps, certeza). Até tentamos, mas na metade do morro esgotamos uns 20min de caminhada e 2 pit-stops para água. Mesmo assim, pelo menos pra gente, foi bonito ver TODOS os vagões da CPTM lotados de ''público de festival''. Meninas ex-Lana atuais-Lorde com flores na cabeça, turminhas com camisetas customizadas do MUSE, várias do Morrisey, do Ramones & do Iron Maiden (não podem faltar), a cantoria nas estações, etc. E a marcha até o festival. Parecia carnaval de Salvador, sem o trio elétrico.

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Do trem para o autódromo

Apesar deste tamanho todo, com espaço de sobra para todos os lados, o Lolla TRAVOU em alguns momentos. Logo após o show da Lorde, no palco Interlagos, ninguém saía, ninguém entrava. A única saída possível afunilava atrás de um bar e ninguém conseguia se mexer. Por sorte, eram fãs teens da Lorde contra fãs da Nação Zumbi chegando, com um intervalo até que considerável. Se fossem públicos de duas bandas grandes, teria sido trágico. Esse trajeto-sufoco durou quase que meia hora. Isso porque a gente nem estava tão longe da ''saída''!

Quando voltamos para o show do Disclosure, o bar deste palco já havia sido fechado para dar vazão. Esperamos que funcione hoje, principalmente quando rolar a transição Jake Bugg –> New Order.

Uma dica: os caixas do palco PERRY estavam sempre tranquilos! Vale a pena andar um pouquinho até lá e evitar fila!

* Julian Casablancas: até ontem, eu ainda tinha uma certa dúvida se o Julian tem um péssimo operador de mesa, técnico de som, microfone podre… ou se tudo isso é estilo mesmo. Pode ser que todas as alternativas acima sejam verdadeiras também… E que esse show com um jeito ruim de ser seja o que ele queira. Mas, Julian, o que é isso??? De longe, parecia OK. Chegando mais pra frente, foi dando dor de cabeça. Som embolado, gritaria, desafinadas… Até não dar mais para reconhecer nada. Nem se fosse Last Nite do Strokes, acho. Bizarro.

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* O dia foi da Lorde, que juntou hipsters, indies variados e fãs mirins de ''Crepúsculo'', dando um nó na música pop aos olhos brasileiros. Sem banda (banda, banda, quero dizer) de apoio, sem vocal de apoio, sem cenário, sem nada. Ela se garante. E não só em Royals, o hit dos hits, mas em todas elas.
Essa mistura sui-generis de público, um mar de gente, de certa forma revela que essa mesma música pop ainda procura entender o papel de uma garota de 17 anos com apenas um disco de carreira, um prêmio Grammy na bagagem, vendas monstruosas nos EUA sendo ela uma neozelandesa que não tem oito meses era apenas conhecida no underground da música.
Nem ela ainda entende. “Eu me sinto com muita sorte de estar aqui [no Brasil] diante de um público desses. Pessoas da Nova Zelândia não costumam muito viajar para fora do país. E eu aqui. E vocês ouvindo minhas palavras”, disse Lorde perto do fim de seu belo show, deixando escapar um choro rápido.
Show fofo do começo ao fim. Com suas dancinhas, suas caretas, com seus 17 anos com atitude de 30. Melhor show da noite.

* Surpresa do dia que quase ninguém viu: Flume, no palco Perry. O DJ australiano, grande destaque da cena eletrônica de lá e já sendo adorado no ''Ocidente'', fez uma apresentação quase que só de suas músicas, mesmo. E não era uma apresentação convencional de DJ. Uma música não estava mixada à outra. Ele desempenhava ela uma a uma, tocando organicamente em várias delas e combinando com um belo sistema de luz de palco e telão. Entre suas músicas próprias, de seu incrível disco homônimo, mandou um remix dubstep incrível de Lorde, para ''Tennis Court''. Flume arrasou. Até o ''garoto bambolê'' deu um show na tenda eletrônica ao som do produtor, DJ e ''instrumentalista de música eletrônica'' Flume.

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O ''bambolê guy'' da tenda eletrônica durante apresentação do DJ Flume

* Após a migração em massa pós-Imagine Dragons, o palco que receberia o show do Nine Inch Nails ficou um pouco vazio, dando chance para quase qualquer um chegar na grade – mas, logo antes do show, a área encheu.
NIN trouxe um show básico no aspecto visual, diferente do que leva a festivais em outros cantos do mundo, mas compensou com a parte musical. O setlist de 19 músicas foi um greatest hits com algumas variações (como a relativamente rara Beside You In Time), e poucos riscos (a outro eletrônica extendida da faixa The Great Destroyer). A plateia parecia dividida entre fãs de longa data e curiosos, sem meio-termo – os primeiros cantavam até músicas novas que empolgavam menos, e os outros saíam aos poucos com algumas faixas menos conhecidas ou lentas.

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A banda, agora um quarteto, recriou algumas músicas num formato diferente, às vezes trocando a bateria por uma batida eletrônica enquanto o baterista Ilan Rubin tocava baixo ou guitarra. O resultado foi bom, e trouxe a maior mudança para quem já assistiu a outras turnês do NIN. Trent Reznor manteve-se até mais frio do que o normal, falando no máximo dois ''thank you'' durante todo o show, e mostrando um pouco de humanidade ao esquecer a letra de Beside You In Time e não conseguir esconder o constrangimento.

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* Muse, chegando após o cancelamento do show extra de quinta, e pouco mais de seis meses depois de sua última vinda ao país, parecia ter algo a provar. A banda justificou sua passagem pelo festival com um setlist inusitado, quase a prova de críticas. Misturaram os singles obrigatórios (Madness, Knights of Cydonia) com faixas antigas que não aparecem em todo show (Bliss, Butterflies & Hurricanes) e raridades que a maioria ali provavelmente nem lembrava o nome (Agitated, Yes Please). Logo nas primeiras músicas, conquistaram a plateia de forma inusitada: um cover de Lithium, do Nirvana, que soou orgânico e puxou um sentimento de nostalgia do público.
Um ''problema'': luzes infernais apontadas para os olhos da plateia do palco um, de duas torres de som. Muitos reclamaram, e até colocaram óculos de sol à noite para diminuir o efeito.
Mas único problema real do show estava na voz de Matt Bellamy, prova real de que estava doente recentemente. Não conseguia atingir agudos, e fez um esforço imenso para alterar certas músicas e adaptá-las a um tom diferente. No fim, um show único na carreira da banda, tanto pelo setlist quanto pelos problemas de voz. A gente tem informações de que Matt precisou usar um potente reforço de voz em momentos da apresentação, tanto que eles vetaram de última hora a transmissão ao vivo do canal Multishow, para evitar possíveis escorregões maiores.

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* Já o Disclosure foi outro ponto alto da noite. Eletrônica feita com a mão, orgânica. Músicas dance de FM inglesa dos anos 90 que odiávamos e de repente ficaram cool, revividas. O único senão do show é que, com um monte de música cantada, quase todas por cantores convidados, dificilmente eles acompanham o Disclosure para lugares longe como o Brasil. Então nos resta cantores de telão. Ou desenhos cantores. Mas fica o recado de que existe respiro novo na música eletrônica, em meio aos DJ's que tocam o show em um pendrive. O Disclosure chega como uma das melhores e mais interessante novidades do gênero em anos, justificando o rótulo de ''novo Chemical Brothers'', mesmo que eles não pretendam ser. E que nem são.

*** VÍDEOS

* Fotos
Derek Mangabeira / I Hate Flash
Caio Duran/AgNews (Lorde)
Reinaldo Canato/UOL (NIN)
Avener Prado/Folhapress (Disclosure)
Adriano Vizoni/Folhapress (Muse)

* Equipe Popload no Lolla
* Cobertura: Lúcio Ribeiro, Ana Carolina Monteiro e Fernando Scoczynski
* Central: Alisson Guimarães
* Fotos: I Hate Flash

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