Planeta Terra Festival: “Brett Anderson and Me – Uma questão pessoal com o Suede”
Lúcio Ribeiro
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* Duas pessoas bem próximas a mim vivem a relação banda-fã mais intensa que eu conheço. Um delas é o Eduardo Palandi, fiel escudeiro poplôadico e enviado especial do blog ao Palácio do Planalto em Brasília. Venho forçando a mão com Palandi para ele escrever sobre o “show do Suede” desde que a banda foi confirmada oficialmente no Planeta Terra Festival. Mas ele sentiu o peso da responsabilidade e só foi esboçar alguma coisa nesta tarde, quando eu já tinha perdido as esperanças. E ele, insistindo que não sabia o que dizer, disse o seguinte:
“Bom, eu realmente não sei o que dizer. Não posso dizer que estava com expectativas baixas, por dois motivos: primeiro, por causa do show do Royal Albert Hall, ano passado, que o Multishow vez ou outra passa. Segundo, porque eu sei do que a banda é capaz – e você mesmo viu no Coachella e me mandou mensagem às 3 da manhã ratificando.
Quem foi pôde ver algumas coisas interessantes: que o Brett Anderson, do alto de seus 45 anos, tem alguns cacoetes que devem ser fruto do uso desbragado de drogas por anos, mas ele sabe tratar uma plateia – que respondeu morna, mais interessada nos reis do reino de Leão. Estavam lá o frenesi ao girar o fio do microfone, o apoio no amplificador da frente do palco, a concentração ao cantar trechos que exigem mais da voz.
Estavam lá o Neil Codling, tecladista/guitarrista, sem mexer um músculo ou esboçar um sorriso, provavelmente por conta da Síndrome da Fadiga Crônica que o tirou da banda em 2001; a dupla fundadora Mat Osman e Simon Gilbert segurando as pontas atrás, com o Osman fazendo cara de “Agora vocês vão dançar, meus queridos”; e o menino-prodígio Richard Oakes na frente, mandando um riff delicioso atrás do outro – e assim se passaram “Trash”, “The Drowners”, “New Generation” e outros treze hinos dos anos 90. O último disco, “New Morning”, não teve nenhuma tocada.
O grande momento do set foi (1) quando tocaram um lado B, “Killing of a Flash Boy”: a guitarra alta e cortante, Brett pedindo palmas para ajudar a bateria a marcar o ritmo. E (2) em “Saturday Night” o cara foi para a galera, foi para a sua galera, que naqueles 65 minutos e em todos os discos do Suede é só o que importa.
Sobrou emoção, faltou tempo para “By the sea”, “Graffiti Women”, “Asbestos”, “Obsessions” e muitas outras. Olha: se o Kings of Leon ou o Garbage tivessem cancelado de última hora e o show do Suede passasse a ter 2 horas, ou se o grupo tivesse tocado num lugar do tamanho do Cine Joia, seria o show da década.
E eu não sei mesmo o que escrever: desde 1992 o Suede sabe traduzir melhor do que eu as coisas que sinto.”
* Foto de abertura: Fabrício Vianna.
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