Brodagem, amor e ódio. Os dez anos da estreia do Libertines
Lúcio Ribeiro
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* Hoje é o aniversário de 10 anos de um dos mais significativos discos do rock inglês no século. O álbum “Up the Bracket”, que marcou a estreia da banda Libertines, foi lançado em outubro de 2002 e, tal qual aconteceu com o britpop na era grunge, resgatou o som britânico para o jogo musical que estava dominado pelo novo rock americano de Strokes, White Stripes, At the Drive in, Queens of the Stone Age.
Pouco inovador sonoramente mas com uma energia brit em grau absurdo e músicas tão toscas quantos lindos, o Libertines era a banda dos mais-que-irmãos Carl Barat e Pete Doherty, uma dupla sempre em combustão seja na amizade explícita ou nas brigas. Ambos geniais dentro da cena que frequentavam, mesmo sem serem necessariamente grandes músicos foram um espelho para a nova geração britânica e além. A referência imediata do Libertines era o Clash. Tanto que a banda foi logo apadrinhada na produção por Mick Jones, ex-cara metade de um dos principais grupos punks da história.
“Up the Bracket”, lindo do começo ao fim, seu jeito tosquinho e sincero de tratar de amor e amigos, de tratar raivas e frustrações em geral, falava direto à alma e coração dos britânicos novos, mais do que para o resto do planeta. Inventava um mundo imaginário para fugir da “realidade embaçada”, ao mesmo tempo que escancarava os problemas sérios de drogas e auto-estima do “poeta contemporâneo” da lama existencial Pete Doherty como se fossem não um problema meramente pessoal, e sim uma questão da nação. E, ainda, dava um alento qualquer para a molecada britânica no sentido de encontrar conforto na brodagem, no “nós contra eles”.
Mas esse fenômeno é mais inglês do que do resto do mundo. A diferenciação de aceitação desse disco em especial é absurda. Enquanto o site indie Pitchfork bota hoje o disco na posição 138 numa lista de 200 melhores álbuns dos anos 2000, o semanário inglês “New Musical Express”, que deu capas históricas frequentes a Barat/Doherty como “espelho da nação”, diz que “Up the Bracket” é um dos dez melhores discos ingleses DE TODOS OS TEMPOS.
De todo modo, é incontável o número de bandas que o Libertines e toda a sua confusão sonora e conceitual inspira em bandas novas do planeta até hoje, mesmo fora da Inglaterra, seja na americana Howler ou na brasileira Garage Monsters, de Porto Alegre, ambas recentes, ambas ótimas.
* O semanário “NME” publica hoje uma edição especial de comemoração aos 10 anos de “Up the Bracket”, esta da capa acima. Encartado à revista tem um “Up the Bracket” celebratório recriado por covers de gente da nova geração e outros nem tantos “jovens”. De Spector ao Mystery Jets, de Howler a Tribes, passando por Eyes on Film e o grande Tim Burgess, que um dia liderou o Charlatans. Todos para recriar clássicos como “Time for Heroes”, “Death on the Stairs” e “I Get Along”, entre outros.
* Abaixo, ouça o álbum inteiro de “Up the Bracket”. Não sei para você, mas para mim ele continua lindo.
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