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O fim do Vegas. Clube matou ele mesmo
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Lúcio Ribeiro

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* Popload em Los Angeles, a caminho do Coachella 2012 – Parte 2.

De bobeira, no avião, fiquei pensando no assunto do título acima e me deu vontade de escrever o texto abaixo. Acho justo fazer esse obituário. 🙂

Notícia que nesta semana abalou a cena paulistana em particular e, pelo visto, a brasileira no geral, o clube Vegas não só já fechou as suas portas para sempre como já está quase todo desmontado, para ser destruído e virar prédio de apartamentos. Foi-se o Vegas. O saguão charmoso, a pista incrível com as luzes no teto, o jardim nos fundos. Acabou tudo.

O fim do Vegas não foi uma surpresa para ninguém. Há uns dois anos o clube não era mais roteiro obrigatório do próprio público que formou, que o ergueu, dos próprios DJs que ele ajudou a forjar a se firmarem. Todo mundo migrou para outros cantos, outros clubes, outras regiões. Porque a noite é assim.

A surpresa está na reação ao seu fechamento. Há tempos a galera da “night” já estava esperando a notícia, mas ainda assim, quando veio, ela chocou. E o “Fim do Vegas” foi rapidinho para o Trending Topics de São Paulo, no Twitter. Logo a seguir, para o Trending Topics do Brasil. Bateu em Nova York: o músico James Murphy, ex-líder do LCD Soundsystem, um dos gênios contemporâneos no quesito “banda, DJs, noite, tendências, canções”, mandou email lamentando o encerramento das atividades do clube em que ele tocou mais de uma vez.

Já inscrito na história paulistana como um dos clubes mais importantes que a cidade já teve, como Madame Satã, Rose Bom Bom, Sra. Kravitz, Lov.e e uns poucos outros, dá para dizer que o Vegas matou ele mesmo. Inaugurado em 2005 pelo argentino Facundo Guerra e pelo rockabilly Tibiriça, o clube deu fama estelar e transformou em “tendência” a degradada parte de baixo da rua Augusta. Fez prostitutas e cafetões dividirem espaço com a galera da noite, com o povo da moda, os trendsetters, os caçadores de trendsetters, as “vítimas” dos trendsetters, os DJs, os músicos, jornalistas, publicitários, gente a fim de dançar, de ouvir música, de ver banda, gente de fora de SP que chegava perguntando “qual é a boa?” e acabava caindo no Vegas. Fez nascer a fama do “Baixo Augusta”, provocou abertura de outros clubes, outros bares, botou a região no mapa das artes de São Paulo.

Isso tudo fez, hoje, o metro quadrado da região ser um dos mais caros da cidade. Subiu tanto que não deu para brigar mais com preços de aluguel, com o aceno milionário de empreendedoras imobiliárias querendo comprar o que der nas imediações. A dona do imóvel onde ficava o clube sucumbiu no fim, e o Vegas teve que ser entregue.

Mesmo em fase descendente há tempos (Facundo sempre me disse que um clube em uma cidade borbulhante como São Paulo tem uma vida útil de cinco anos), o Vegas ainda se segurava. Teve tentativa para não cedê-lo, mantê-lo e até uma mini-intenção de ressuscitá-lo, mas o dinheiro aqui falou mais alto.

Graças ao Vegas, motivados pelo que causaram na noite com a boate da Augusta 765, Facundo e Tibira entregaram outros clubes e bares e casa de shows a outras regiões da cidade, mantendo a cidade cada vez mais viva.

Muita gente boa e importante tocou no Vegas. Pelo que deu para lembrar rapidinho, não só James Murphy mas como a gangue toda da DFA passou por aquelas picapes. Carl Craig tocou lá. Andy Butler do Hercules and Love Affair também. O maximal do início passou por lá, com os caras da gravadora francesa Ed Banger. O Vegas foi sede do som da eletrônica de Chicago. Enfim.

Arrisco a dizer que se o Vegas não existisse, eu não estaria envolvido hoje com a casa de shows Cine Joia. E eu não teria uma parte dos amigos que eu tenho hoje, até com envolvimento profissional e além.

Se não fosse a “noite de rock” do Vegas, das quintas, a Rockload ou a Popfellas dentro da Rockfellas, eu até hoje não seria convidado para tocar tanto fora de São Paulo como sou, mesmo não sendo um DJ, assim, “DeeeeeJaaaaay”, na real concepção da nomenclatura. Whatever.

Caras do Rapture, do !!!, do Datarock tocaram comigo no porão do Vegas. Fiz uma festa uma vez para os Strokes em que os Strokes mesmo não foram, mas só um povo do Arcade Fire (“A gente queria ir, mas você não mandou ninguém nos buscar. Ficamos esperando no hotel”, reclamou no dia seguinte o baterista Fabrizio Moretti, quando perguntei por que eles não apareceram).

Enfim, como disse o Facundo no anúncio oficial do fim do clube, “O Vegas está morto. Viva o Vegas. Nós!”

** Mas desconfio que o último prego do caixão do Vegas ainda vai ser colocado num futuro próximo, com um velório digno a ser realizado em forma de festa. Tipo a que o LCD Soundsystem fez em show no Madison Square Garden para celebrar o fim da banda. Para acabar na alegria. Para ser o velório mais divertido do mundo. Eu vou nele feliz, mas de preto.

* Vem aí o canto do cisne do Vegas. Para a galera dançar a última valsa!

foto: Helena Yoshioka
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