A nada doce vida de Frank Ocean
Lúcio Ribeiro
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Nos últimos dias, não se fala em outra coisa nas revistas, sites e blogs especializados em música. Frank Ocean, uma estrela ascendente que desponta nesse novo rap meio R&B e misturado com um pouco de tudo, lança na próxima semana “Channel Orange”, seu álbum solo, cercado de polêmica após uma declaração dada pelo rapper, que revelou ser homossexual. A revelação talvez não teria esse peso todo se (1) ele não estivesse prestes a lançar seu primeiro álbum solo, dando a entender que esta possa ser, além de tudo, uma tacada oportunista e (2) ele não fizesse parte do problemático combo Odd Future, liderado pelo mais problemático ainda Tyler, The Cretar, e que é constantemente relacionado à assuntos polêmicos, como a homofobia.
Em seu site, Ocean revelou que seu primeiro grande amor foi um homem. “Há quatro verões, conheci alguém. Eu tinha 19 anos, ele também. Passamos aquele verão e o verão seguinte juntos. Quase todos os dias. E nos dias que estávamos juntos, o tempo voava. Eu o via, e via o sorriso dele, a maior parte do dia. Ouvia as conversas e os silêncios dele. Até que chegava a hora de dormir, que eu compartilhava com ele com frequência. Quando fui perceber que estava apaixonado, foi maligno. (…) Foi meu primeiro amor. Mudou minha vida”, relatou.
Ocean, que ficou conhecido ano passado após lançar a ótima mixtape “Nostalgia, Ultra”, surpreendeu o mundo da música com a declaração, apesar de muitas reviews da crítica já terem relacionado anteriormente algumas letras de suas músicas à homossexualidade.
O rapper recebeu apoio de muita gente, desde sua mãe à mega popstar Beyoncè, que enfatizaram a “coragem” de Ocean em assumir tudo isso publicamente. Beyoncè postou em seu site um poema com os dizeres: “Seja corajoso! Seja honesto! Seja generoso! Seja poético! Seja aberto! Seja livre! Seja você mesmo! Seja apaixonado! Seja feliz!”. Ocean escreveu “I Miss You”, música que compõe o álbum “4”, o mais recente da cantora.
O ícone gay Boy George foi além e fez propaganda para o novo disco do rapper. “Se você é gay, negro e gay ou um cara apenas bacana, você deve comprar o álbum de Frank Ocean e mostrar que ele não se manifestou em vão”.
Até mesmo o intempestivo Tyler, The Creator, seu colega de Odd Future, se disse orgulhoso com a atitude do amigo. “Meu ‘big brother’ finalmente fez isso. Estou orgulhoso dele porque sei que essas merdas são difíceis”.
“Channel Orange” chega em forma de declaração e desabafo. Ainda no texto, Ocean relata que escrever músicas foi o que o manteve com a mente ocupada. “Até agora, escrevi dois discos. Este é um deles. Eu não tenho mais segredos para guardar”.
O álbum, já disponível na íntegra para audição, tem rap, R&B e soul. Delicioso de ouvir. No meio de todo este furacão, Ocean esteve no programa de Jimmy Fallon, onde cantou “Bad Religion”, acompanhado do The Roots. (Veja tudo aí, abaixo).
Talvez a melhor definição para isso tudo, até o momento, seja a análise feita pelo jornalista Randall Roberts, em extensa matéria publicada ontem pelo LA Times. “Frank Ocean’s album is bigger than ‘he’ – ‘Channel Orange’ is getting attention for his singing about lusting for a ‘he,’ but that may be distracting from its overall beauty.”
* “Channel Orange”, o tracklist.
01. Start
02. Thinkin Bout You
03. Fertilizer
04. Sierra Leone
05. Sweet Life (feat. Pharrell Williams)
06. Not Just Money
07. Super Rich Kids (feat. Earl Sweatshirt)
08. Pilot Jones
09. Crack Rock
10. Pyramids
11. Lost
12. White (feat. John Mayer)
13. Monks
14. Bad Religion
15. Pink Matter (feat. André 3000)
16. Forrest Gump
17. End