Há 30 anos, os Smiths lançavam seu primeiro disco
Lúcio Ribeiro
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* Você é inglês e vive uma época de desesperança. Pessoal e sonora. A fase política, social e econômica não é boa, e a música que você ouve (você é inglês, logo é fanático por música) reflete esse espírito de fim de mundo. O punk passou destruindo tudo e deixou um pós-punk sombrio, melancólico, deprê, sob uma terra cultural arrasada. O tempo é DARK. De Manchester, o New Order tentava elevar o espírito teen independente inglês com a ultradançante “Blue Monday” e o ícone sorumbático The Cure procurava disfarçar o fundo do poço da alma britânica com fofurices como “The Love Cats”, mas uma banda novinha com um cara esquisito e de voz “diferente” e um guitarrista jeitosamente “diferente” começava a criar um zunzum de que a coisa iria mudar na música inglesa. E essa banda nova lançaria um primeiro disco no dia 20 de fevereiro de 1984, 30 anos hoje. O nome do álbum de estreia traria na capa um sujeito com o dorso nu e olhando para baixo, bem ao estilo da época. O disco levaria o nome da banda: The Smiths.
Em mais uma dessas efemérides musicais que a gente tanto odeia gostar ou gosta de odiar, é preciso falar do que foi para o inglês em particular (e para os indies anos 80 do mundo todo em geral) ouvir naqueles tempos uma música cantada por Morrissey e tocada por Johnny Marr. Porque daí dá para entender a razão de pagarmos pau para os dois até hoje.
O lirismo era peculiar. Numa época dark e nebulosa, ouvir mesmo as músicas tristes cantadas por Morrissey trazia uma paz de espírito. Mas, se não bastasse uma canção linda atrás da outra, impactantes, singulares dentro da cena pop da época, o que mais pegava eram as letras de Morrissey. Ninguém conseguia arquitetar palavras em frases tão bonitas e ao mesmo tempo simples e sinceras dentro de uma métrica musical como ele. Não à toa, as letras de Morrissey viraram recentemente uma pasta de estudo dentro da renomada Universidade de Cambridge.
E como uma banda escolhe para seu disco de estreia uma canção tão delicadamente triste na música e letra como “Reel around the Fountain”, cujas linhas constituem algo forte como uma carta de amor depois de um abandono, que também projeta mudanças, joga na cora uma confiança integral quando ninguém confiava?
Na sequência mudava tudo. A faixa 2, “You’ve Got Everything Now”, é uma porrada sem perder o lirismo. A letra era uma outra carta de amor pós-abandono, parecia. Mas nessa tinha mais raiva que tristeza. Com algumas confissões no meio.
Foi a primeira música dos Smiths que eu ouvi na vida, graças a um programa que o gênio Kid Vinil tinha na rádio farofa Antena 1, obviamente jogado tipo num horário qualquer na madrugada de terça-feira. Sei lá mais. E graças aos contatos que o Kid tinha na época com comissários de bordo da Varig, que trazia os discos novos para ele, porque as novidades da cena inglesa e americana demoravam alguns meses para chegar por aqui.
A terceira canção de “The Smiths” é um precursor de Nirvana 15 anos antes, no seu estilo agridoce, calmaria-pancadaria, na linha Morrissey, claro. Ou o máximo do punk rock a que os Smiths conseguiam chegar, para manter uma certa sintonia de época. Chamava “Miserable Lie” e daí deste título você tira até onde iria a letra dessa.
O álbum de estreia dos Smiths ainda guardaria pérolas na linha “Hand In Glove”, “Still Ill”, “What Difference Does It Make” e “This Charming Man” (single de 1983 incluído na versão americana dno álbum).
“The Smiths” é um dos dez maiores discos da minha vida. É também um dos 100 maiores álbuns britânicos da história, segundo o “Guardian”. Um dos 100 discos principais dos anos 80, de acordo com a “Rolling Stone”, que também o bota como um dos 100 maiores álbuns de estreia de todos os tempos.
Como homenagem aos 30 anos de “The Smiths”, vou botar alguns trechos das geniais letras do Morrissey. Até hoje são imbatíveis.
1. Reel around the Fountain
Fifteen minutes with you
Well, I wouldn’t say no
Oh, people said that you were virtually dead
And they were so wrong
2. You’ve Got Everything Now
No, I’ve never had a job
Because I’ve never wanted one
I’ve seen you smile
But I’ve never really heard you laugh
So who is rich and who is poor ?
I cannot say … oh
3. Miserable Lie
The dark nights are drawing in
And your humor is as black as them
I look at yours, you laugh at mine
And “love” is just a miserable lie
4. Pretty Girls Make Graves
I could have been wild and I could have been free
But Nature played this trick on me
She wants it Now
And she will not wait
But she’s too rough
And I’m too delicate
5. The Hand That Rocks the Cradle
There’ll be blood on the cleaver tonight
And when darkness lifts and the room is bright
I’ll still be by your side
For you are all that matters
And I’ll love you to till the day I die
There never need be longing in your eyes
As long as the hand that rocks the cradle is mine
6. Still Ill
Under the iron bridge we kissed
And although I ended up with sore lips
It just wasn’t like the old days anymore
No, it wasn’t like those days
Am I still ill ?
7. Hand in Glove
The good life is out there somewhere
So stay on my arm, you little charmer
But I know my luck too well
I’ll probably never see you again
I’ll probably never see you again
I’ll probably never see you again
8. What Difference Does It Make?
Oh, the devil will find work for idle hands to do
I stole and then I lied
Just because you asked me to
But now you know the truth about me
You won’t see me anymore
Well, I’m still fond of you, hh-ho-ho
9. I Don’t Owe You Anything
Did I really walk all this way
Just to hear you say :
“Oh, I don’t want to go out tonight”?
“Oh, I don’t want to go out tonight”
But you will
For you must
10. Suffer Little Children
Over the moor, take me to the moor
Dig a shallow grave
And I’ll lay me down
11. This Charming Man
I would go out tonight
But I haven’t got a stitch to wear
This man said:
“It’s gruesome that someone so handsome should care”
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