Courtney Love, a “vaca”, 20 anos depois, ainda grita no dia do casamento
Lúcio Ribeiro
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* Não sei se você está percebendo, mas está rolando um certo revival para as meninas grunge-punk que gritam. A Brody Dalle lançou o disco dela nesta semana, berrando muito. E a complicada Courtney Love saiu do surto (mais ou menos) para lançar um novo single. Há poucos dias a gente ouviu a gritada “You Know My Name”. Sim, a gente sabe o nome dela, sim. Agora pintou o lado B desse single, ou o outro lado A, uma música chamada “Wedding Day”. Que eu achei melhor que a primeira nova.
“Eu vou sempre voltar forte”, se esguela Love na música, emendando com um “Fuck off”. Quem há de negar? O single “You Know My Name”/”Wedding Day” sai semana que vem, em vinil e no iTunes. Prenúncio de um álbum novo da viúva Cobain, a ser lançado ainda neste ano, dizem.
Há 20 anos, em abril de 1994, Courtney Love lançava o grande álbum de estreia de sua banda Hole, o incrível “Live Through This”, disco marcado por memoráveis canções, um feminismo roqueiro absurdamente lindo e pela estúpida morte do guitarrista Kurt Cobain, em suicídio quatro dias antes de o disco do Hole chegar às lojas. Álbum que tem a marca de seu marido por praticamente todas as músicas, tipo um fantasma. Mas, apesar de ser um disco-luto, mais que tudo “Live Through This” não consegue apagar a fortíssima personalidade de Courtney Love.
Ela é hoje não mais que uma barraqueira desacreditada, ok. Mas já foi voz de uma geração grande de indies mulheres.
Tem alguns momentos especiais em minha vida em que Courtney Love cruzou meu caminho. Primeiro foi o show de abertura para o Mudhoney que ela fez com o Hole em 1991, em Londres, quando eu morava por lá. Uma semana antes do Reading Festival daquele ano, em que o Nirvana apareceu carregando toda a revolução grunge para um concerto à luz do dia que mudaria a música da época. Sente a ocasião. Sonic Youth e Nirvana na plateia do Astoria, Mudhoney esperando para entrar, e Courtney Love no palco de baby-doll todo rasgado e cantando esguirçadamente música dos Smiths no intervalo das canções do Hole. Pensa.
Outro “momento Courtney & Eu” foi anos depois num outro Reading Festival, quando eu estava muito longe do palco mas ainda assim fui arrastado pela multidão e flutuei uma música inteira sem conseguir botar o pé no chão na onda humana formado pela molecada louca. Não era fácil ir ao Reading Festival naquela época.
E, por fim, uma das grandes entrevistas que fiz, mais recentemente, pouco antes de ela vir ao Brasil para o polêmico show do SWU, lembra disso? Conversei com ela por mais de uma hora sem fazer uma única pergunta. E ela no fim pediu que eu a levasse, quando no Brasil, para tomar chá do Santo Daime, entre outros “requests”.
Do “Live Through This”, lá de 1994, a gente destaca essa pequena maravilha abaixo.
** Ontem a polícia de Seattle divugou um bilhete encontrado na carteira de Kurt Cobain no dia em que ele foi achado morto com um tiro da cabeça, em sua casa. Na carta, aparentemente escrita por Cobain, ele acusa Courtney Love de estar “sugando seu dinheiro”. A carta não tem data e talvez estivesse há dias na carteira de Cobain. Ela tinha uma estampa de um hotel de San Francisco.
O bilhete não aliviava a barra de Courtney Love mesmo, na treta de casal.
“Do you Kurt Cobain take Courtney Michelle Love to be your lawfully shredded wife,” the letter reads, “even when she’s a bitch with zits and siphoning all yr money for doping and whoring.”
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