Sasquatch, um festival daora, da paz, do amor, no maior visual
Lúcio Ribeiro
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* Popload em Wenatchee, a capital mundial da maçã AND “the buckle of the power belt of the Great Northwest”. OK?
Eu, que vou a festivais desde que o Nirvana me levou ao Reading Festival 1991, já vi muita coisa nesta vida. De eventos em vilarejos na França até o SWU em Itu. E posso dizer que este Sasquatch 2013, “perto” de Seattle e de Portland, me surpreendeu.
Primeiro que estou hospedado em Wenatchee, cidadezinha brejeira e semideserta que vive deserta mas tem 20 cinemas, ao lado de outra (Leavenworth), que é uma reprodução exata e em miniatura da alemã Munique, onde uma escapada para um schnitzel leva 10 minutos e a uma visão de montanha com neve no topo, mesmo não estando frio.
Wenatchee fica a meia hora, 40 minutos de carro até o Gorge Amphitheatre, no meio de um desfiladeiro, onde acontece o Sasquatch e outros vários shows de arena. Boa parte da estrada corta campos, rio onde você vê grupos praticando rafting, montanhas de árvores, de pedra. Parece às vezes que está nevando, porque “chove” uma fibra tipo algodão na estrada, trazido pelo vento das árvores gigantes locais. Para ir é uma belezura de cenário. Para voltar, uma escuridão dessas típicas em que parece que um disco-voador vai pousar ao seu lado a qualquer momento.
O Sasquatch é uma delícia, porque é um grande festival que tem pouca gente. Quero dizer: 30 mil pessoas “só”. O visual, seu forte, é um desbunde. O palco principal fica no pé de um morro, com rios e vales ao fundo. Tem uma pista grande na frente que tem um leve aclive, parecendo cinema, parecendo o Cine Joia. Dá para ver bem o palco de qualquer lugar, desde que um americano de dois metros não fique a sua frente. Mas o bacana é o morrão, onde fica a maior parte da galera sentada ou deitada na grama, vendo os shows com incrível som não importa quão no topo você esteja. Pensa o que foi o Sigur Rós e o XX nesse cenário.
O clima é de paz, amor e doidurinhas. Maconha, no Estado de Washington, é droga legal, então tanto faz se você está na frente de um segurança fumando uma erva ou bebendo vinho que para ele é a mesma coisa, desde que você não esteja com uma mochila carregada para vender, nem um, nem outro.
Sente a vibe: a maioria do festival, dizem que 80%, acampa na região, famosa pelos acampamentos para curtir natureza, fazer trilhas e esportes em geral. Quando o festival acaba, por volta da meia-noite, 1h, rolam várias after-parties nos campings. Esses seres humanos, logo ao meio-dia do dia seguinte (ou do mesmo dia), volta ao festival para mais batelada de shows.
Outros 80% do festival têm a cara pintada com estrelas, luas, flores e outras figuras simpáticas ao bichogrilismo moderno.
No Sasquatch, que tem mais outros três palcos e uma tenda dance, quase não tem tumulto para pegar bebidas e comidas. E as filas de banheiro são encaráveis, pelo que eu vi.
Tem barraquinha de margaritas e vinhos, pensa.
Diferentemente de todo festival americano, você pode circular com bebida alcoólica por todos os lugares. Não precisa beber num cercadinho. Nem em copo de papel ou plástico eles botam a bebida. Você pode ir à beira dos palcos com a lata big de Bud Light ou Becks, que beleza. Ninguém atira nos artistas, quase ninguém joga as latas no chão.
Aí, tirando tuuuuudo isso, tem o line-up, a escalação média mais gostosa dos festivais americanos em 2013 e sem nenhum nome gigante de headliner.
Aqui teve o incrível XX, o mágico Sigur Rós, o hoje enorme Macklemore & Ryan Lewis abarrotando o palco principal com seu show “local” e com incrível sample safado de Killers (a da frase “I got soul but I’m not a soldier…”) sacudindo o canyon; Devendra Banhart com Fabrizio Strokes na bateria, Rodrigo Amarante na guitarra fazendo seu sambinha indie menos ciganismo, mais hipsterismo; Arctic Monkeys e o poder de sempre; o sempre absurdo Built to Spill; os novos todos; o material novo ao vivo do Vampire Weekend; o Postal Service, que é hoje; Elvis Costello; o melhor show da vida do Bloc Party; o Tame Impala todo atrasado (quase não chegam da Espanha), todo improvisado na correria e de chorar de bom; Grimes e Caveman; Andrew Bird, Father John Misty e Dirty Projectors; o Black Rebel Motorcycle Club ruim, desanimado; Death Grips e Totally Enormous Distinct Dinosaurs em DJ set-live lindo. Acho que estou esquecendo vários nomes agora… Enfim.
Fiz um vídeo de rolê rápido do Sasquatch, numa andada qualquer. Em duas partes. Dá para ter um pouco da ideia de como é o festival. Eu, se fosse você, guardava uns “bucks” e cogitava em vir no ano que vem.
Amanhã falo mais dos shows.
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